
FALTAVA SÓ UM SEGUNDO - Por: Rafael Mano Divério
Sexta de noite, Rio Grande inteira se mobilizou. Era o último capítulo da novela e ninguém se importava. O ginásio Farydo Salomão recebeu um baita público. Final do Estadual de futsal mais bagunçado de todos os tempos, categoria sub-17. A APA/CMRL precisava de uma vitória no tempo normal e um empate na prorrogação para a nossa cidade levantar um caneco que tanto merecemos contra Antônio Prado. É, sim, merecemos mesmo.
Quando começou, fizemos logo 2 a 0 (vou usar o "nós" porque esse era um jogo de toda a cidade). Eles empataram. Viraram. Nós empatamos e viramos de novo. Eles empataram. Voltamos à frente. Eles empataram. Mais dois para nós e fim do tempo normal. Metade do caminho tinha sido percorrido.
Vamos para a prorrogação. Bastava um empatezinho. Fizemos um gol, agora vai dar tudo certo. Saída do segundo tempo, eles empatam. Calma, ainda dá APA/CMRL. Seguimos jogando muito, eles também, que baita time, que baita jogo! O tempo segue passando. O goleiro deles pega um tiro livre. Falta pouco, um minuto; 50 segundos; 40; 30; 20; "dez, nove, oito, sete, seis, cinco, quatro", grita a arquibancada, "três, dois, um". Lateral para eles. Silêncio. Um segundo e 63 centésimos. Quase nada. Um chute cruzado. A bola entrou. Passou na nossa frente. E entrou. Perdemos.
“Um silêncio ensurdecedor”, já definira alguém no Maracanã de 1950. Lágrimas de um lado. O nosso. Alegria do outro. O deles. Como é possível? Faltava tão pouco... Os jogadores choram, a comissão técnica chora, pais choram, repórteres choram. Precisava ter sido no último chute? Uma cena bonita: Adriano, o melhor do time deles, corre para fora da quadra e dá um abraço em Elisson, talvez o melhor nosso, como Conte fizera com Falcão em 1982.
Jogos assim não têm perdedores. Uns venceram mais que os outros. Mas ninguém perdeu. Agora, podia ter sido para nós, né?
O técnico Degani repetia: "Um segundo, um segundo". Ele já teve uma experiência parecida, quando em 1996, minha geração perdeu um campeonato na prorrogação em casa. Mesmo sem ser daquele time, lembro o quanto doeu.
Dessa vez, porém, foi pior. Só um segundo…
Imagino que esses guris vão passar meses se perguntando: "E se eu tivesse esticado o pé?", "E se eu tivesse segurado a bola?", "E se eu tivesse...". Nem esquentem, João, Pedro, Elisson, Jean, Émerson, Preto e Chandler (sem contar os que não entraram), às vezes, já está escrito. Talvez simplesmente não tivesse como ser diferente.
Mas, não precisava ser tão dolorido. No ano em que não teremos futsal profissional, dispensávamos essa dor. Já é triste demais não termos jogos. Podíamos ter sido poupados.E que fique claro, pessoal da APA/CMRL: vocês, mais uma vez, fizeram até mais do que podiam. Nada do que escrevo agora pretende pôr a culpa em vocês. Aliás, perdemos todos, lembram? E, na verdade, mais do que essa decisão de Estadual, mais do que a alegria que vivemos por 49 minutos e 59 segundos, mais do que a vaga na Taça Brasil, mais do que tudo, meu agradecimento vai porque vocês nos fizeram sonhar. Uma cidade inteira sonhar.
Rafael Mano Divério (rafaeldiverio@diariopopular.com.br)
Achei o texto perfeito, mais uma vez as lágrimas vieram, mas a cada dia que passa eu quero VENCER mais ainda...O SONHO NÃO ACABOU.
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